sexta-feira, 9 de março de 2012

Desabafo contra o dia da mulher

Não sou particularmente uma feminista, embora acredite que a mulher merece ser respeitada tanto quanto os homens, os animais, as crianças, os idosos, os portadores de necessidades especiais, os fumantes, etc. Deve ser por isso mesmo que me irrita essa necessidade que a sociedade tem em exaltar os feitos das chamadas "minorias", principalmente quando a "minoria" em questão é a mulher.

Na semana do "dia internacional da mulher", blá, blá, blá, convido você a fazer uma reflexão sobre essa BABAQUICE que é a ode aos "feitos" das mulheres - como se fôssemos criaturas inferiores que precisassem de constantes incentivos para conseguir alguma coisa na vida.

A começar pela ladainha Dilma-primeira-mulher-presidente-da-República. Algum de vocês que votou nela de fato chegou a pensar "nossa, que coisa linda de Deus, se ela ganhar teremos uma mulher presidente da República"? É claro que não. Eu, que votei na Marina Silva, também não pensei se estava votando em mulher ou homem: apenas simpatizei com as ideias - note que não há GÊNERO envolvido nisso. No segundo turno, a propaganda da Dilma enfatizava a soma de votos recebidos por Marina e pela futura presidente que, segundo os marqueteiros de Dilma, mostrava a vontade do povo em ter uma mandatária do sexo feminino.

Aí reclamam que não há mulheres na política, que estamos sub-representadas, etc. Mas quando uma mulher ingressa na política, dois destinos estão escritos para ela: ou vai ser estigmatizada como a mulher-que-prioriza-a-carreira-em-detrimento-da-família-mas-que-absurdo ou ela é - pasmem - a deputada MUSA. É sempre assim: quando uma nova bancada se elege, todos os veículos de comunicação fazem entrevistas com a deputada/senadora/prefeita/vereadora MUSA para saber como, entre tantas atribuições da política, ela consegue manter o visual impecável, o cabelo lindo e sedoso e o peso nunca maior do que 55kg.

É preciso entender que as mulheres não são minoria, que somos tão ou mais capazes de fazer tudo o que qualquer um faz e que, principalmente, não precisamos de uma sociedade hipócrita que bate palmas para tudo o que conseguimos.

Se as mulheres hoje conseguem trabalhar e cuidar de casa, isso é um feito maravilhoso, MAS NÃO PRECISA SER EXALTADO TODO SANTO DIA. Seria muito melhor se eu tivesse emprego, mas não tivesse família? Ou é melhor ter família e ser desempregada? Ou não ter nenhum dos dois, que tal? Eu não ia me cansar nunca!

A mulher não é frágil, não é sensível. À mulher é permitido demonstrar seus sentimentos e desejos, coisa que é proibida aos homens. Desde cedo, são ensinados de que "brincar de casinha é coisa de menina", que "menino não chora". Como esperar então que o homem cuide de casa e trabalhe, como faz a mulher?

A essência do ser humano - homem ou mulher - é ser sensível, é querer carinho e ser cuidado, é querer ser amado. Isso não é competência única e exclusiva da mulher.

Não queremos ganhar menos que os homens - como não queremos ganhar menos que outras mulheres que desempenham o mesmo trabalho. Não queremos ser olhadas com pena e misericórdia. Não queremos ser taxadas de piranhas porque gostamos de sexo nem de barraqueira porque não levamos desaforo pra casa.

Queremos é que essa merda toda de "dia internacional da mulher" sirva menos para entregar flores ou nos isentar de pagamento de estacionamento em shopping - se eu fosse homem, ficaria muito puto com essa segregação. Se é pra ser lembrada, que seja todo dia, por nossos familiares, amigos, namorados, companheiros. Me dê um presente, ou um abraço, ou um beijo, faça algo legal por mim porque eu mereço, não porque sou mulher.

Queremos ser tratadas com respeito e igualdade, sem que essa data reflita uma época em que não éramos gente (e ainda há países em que não somos). Porque a segregação homem-mulher é quase tão imbecil quanto o preconceito contra os negros.

A verdade é que o dia internacional da mulher é uma maneira de a sociedade sexista tentar se eximir de toda a culpa por séculos de tratamento desigual e do preconceito que ainda existe hoje contra o ser humano do sexo feminino. Como se eu fosse melhor do que os outros porque sou mulher.