segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eu tenho amigos

Já tive dias ruins, já tive dias melhores, já tive dias bons. Já tive dias em que não quis sair da cama e dias em que não queria voltar. Dias em que quis abrir a janela, outros em que a vontade era correr, gritar e chorar, tudo ao mesmo tempo.
Em todos esses dias, eles estavam sempre lá.
Já houve vezes em que eu não queria sair, mas fui, por eles. Dias em que não queriam e foram, por mim. Vezes que eu cedi, que eles cederam, que ambos cederam. Que dei carona, que fui levada, que levei a culpa, que me safei. Por eles, com eles.
Vezes em que eu furei a dieta ou os fiz burlar o regime. Dividimos a sobremesa, as calorias, a culpa.
Porque ter amigos é melhor que ter irmãos.
Não que ter irmãos seja ruim, mas ter amigos é melhor.
Eu posso escolher passar um tempo com os amigos. Ou não.
Eu posso não morar com os meus amigos e, por isso, morrer de saudades deles.
Eu posso viajar com eles e encher o saco das suas manias. Ou morrer de rir delas. E morrer de saudades.
Eu posso ser vizinha dos meus amigos e, ainda assim, não vê-los com tanta frequência quanto gostaria.
Posso nem morar no mesmo Estado, nem no mesmo país, mas a confiança é a mesma, a cumplicidade a mesma. Às vezes, até o signo é o mesmo.
Tem amigo que é mais velho do que você. Que já bebia, fumava e trepava quando você nasceu. Mas essa diferença jamais será notada numa conversa entre vocês. A idade não importa, as experiências - de ambos - só enriquecem a convivência e o papo é de igual para igual. Não é maravilhoso ter amigos?
Eu posso ter diferentes pais e irmãos quando tenho amigos. Os pais dos meus amigos também são meus pais - apesar de eu só chama-los de "tio" e "tia". Mesmo aos 20 e tantos anos de idade. Tem amigo que é família também.
Posso ter amigos mais recentes também, mas igualmente importantes. A intensidade e a importância de uma amizade se medem pelas vezes em que você quis chamar o seu amigo no momento da merda federal, do choro incontrolável ou da alegria. O tempo de amizade é só um número.
Posso não trabalhar no mesmo lugar que eles, apesar de termos a mesma profissão.
Posso dividir o meu amor por animais, meu ódio por quem não gosta de bichos, minhas cervejas, minhas garrafas de vinho, meu parcos dotes culinários. Divido também as risadas e as besteiras da vida.
Posso oferecer colo, carinho, cafuné, sorvete, abraço, e pedir tudo isso também.
Posso pedir conforto para um coração partido.
Pedir que não brigue comigo porque fiz algo que sei que você reprovaria.
Saiba, amigo, que sinto ciúmes e sempre vou sentir. Você, meu amigo, é só meu. Eu te amo e quero você só pra mim. Mas aceito dividir você e sua atenção com outros amigos que amo igualmente.