quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ando a fim demais


Ando querendo dormir o dia inteiro. E acordar a tempo de curtir o dia.
Ando querendo tomar sol e me bronzear e, ao mesmo tempo, aproveitar a chuva que cai torrencialmente lá fora debaixo do edredon, acompanhada do meu cachorro e de um bom filme. Ou um livro bacana.
Ando querendo ficar sozinha, curtir a solitude. E também ando querendo festa, mil pessoas novas, gente desconhecida por descobrir.
Por aí, ando querendo o conhecido, o seguro, o confortável, mas também desejo o novo, o inesperado, a surpresa, algo que me balance e me faça chorar de emoção. Que me arrepie.
Ah, eu quero fazer dieta, emagrecer mais vários quilos, ficar saudável – não tem ninguém ficando mais novo aqui. Mas também quero um jantar com risoto, carne, vinho e uma companhia que me faça esquecer as horas.
Quero amar e ser amada. Por mim, inclusive.
Quero massagem nas costas, relaxamento, escalda-pés, sauna, cafuné. Mas também me coço para me exercitar, sair correndo, pular corda.
Quero beber refrigerante e suco com gengibre, limão e couve.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eu tenho amigos

Já tive dias ruins, já tive dias melhores, já tive dias bons. Já tive dias em que não quis sair da cama e dias em que não queria voltar. Dias em que quis abrir a janela, outros em que a vontade era correr, gritar e chorar, tudo ao mesmo tempo.
Em todos esses dias, eles estavam sempre lá.
Já houve vezes em que eu não queria sair, mas fui, por eles. Dias em que não queriam e foram, por mim. Vezes que eu cedi, que eles cederam, que ambos cederam. Que dei carona, que fui levada, que levei a culpa, que me safei. Por eles, com eles.
Vezes em que eu furei a dieta ou os fiz burlar o regime. Dividimos a sobremesa, as calorias, a culpa.
Porque ter amigos é melhor que ter irmãos.
Não que ter irmãos seja ruim, mas ter amigos é melhor.
Eu posso escolher passar um tempo com os amigos. Ou não.
Eu posso não morar com os meus amigos e, por isso, morrer de saudades deles.
Eu posso viajar com eles e encher o saco das suas manias. Ou morrer de rir delas. E morrer de saudades.
Eu posso ser vizinha dos meus amigos e, ainda assim, não vê-los com tanta frequência quanto gostaria.
Posso nem morar no mesmo Estado, nem no mesmo país, mas a confiança é a mesma, a cumplicidade a mesma. Às vezes, até o signo é o mesmo.
Tem amigo que é mais velho do que você. Que já bebia, fumava e trepava quando você nasceu. Mas essa diferença jamais será notada numa conversa entre vocês. A idade não importa, as experiências - de ambos - só enriquecem a convivência e o papo é de igual para igual. Não é maravilhoso ter amigos?
Eu posso ter diferentes pais e irmãos quando tenho amigos. Os pais dos meus amigos também são meus pais - apesar de eu só chama-los de "tio" e "tia". Mesmo aos 20 e tantos anos de idade. Tem amigo que é família também.
Posso ter amigos mais recentes também, mas igualmente importantes. A intensidade e a importância de uma amizade se medem pelas vezes em que você quis chamar o seu amigo no momento da merda federal, do choro incontrolável ou da alegria. O tempo de amizade é só um número.
Posso não trabalhar no mesmo lugar que eles, apesar de termos a mesma profissão.
Posso dividir o meu amor por animais, meu ódio por quem não gosta de bichos, minhas cervejas, minhas garrafas de vinho, meu parcos dotes culinários. Divido também as risadas e as besteiras da vida.
Posso oferecer colo, carinho, cafuné, sorvete, abraço, e pedir tudo isso também.
Posso pedir conforto para um coração partido.
Pedir que não brigue comigo porque fiz algo que sei que você reprovaria.
Saiba, amigo, que sinto ciúmes e sempre vou sentir. Você, meu amigo, é só meu. Eu te amo e quero você só pra mim. Mas aceito dividir você e sua atenção com outros amigos que amo igualmente.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Volte o que existiu

Volte o que existiu
Ainda está aqui dentro
Quero de volta respostas
Quero de volta a vida que se perdeu

A chance, qual é?
A esperança, será?
Amor ainda existe
Confiança ainda existe
Vontade, saudade, intimidade

A hora que quiser, mas que seja logo
O coração não aguenta, a dor aumenta, não há desculpa
Não há motivo para adiar o amor
Não há razão para aumentar a distância
Nem há desejo na separação

Quem quiser ser infeliz
Por favor, saia daqui
Pois hoje e daqui pra frente a minha vida é para sorrir
E você está convidado

Por quanto tempo mais
O coração vai bater lento, descompassado e só
Por enquanto dá
Por amanhã, não mais

Por que será?
Por onde andará?
Como estará?
Quem dirá?
A falta que faz

O cheiro do cabelo, o rosto no espelho
O olho no olho
A sensação nunca sentida
A certeza do que é certo e para sempre

Nada foi igual, jamais será
Você sabe que é assim
E que nunca houve um caso de amor como este
Porque a gente combina e descombina
E porque não faz sentido adiar a felicidade

quinta-feira, 31 de maio de 2012

De quem a gente escolhe sentir saudade

Nada será se não for
Pelo potencial da dor ou do amor
Pela ilusões, incertezas, esperanças, garantias, alegrias
Quem garante, afinal, que o que puder ser será
Senão o coração querer - ou não
Dar um basta no amor, ou na dor, ou no amor
Quem dirá, afinal, que feliz é quem não diz o que sente
Percebe por um instante que a felicidade traz consigo a responsabilidade de para sempre ser feliz
E que a companhia muda da dor se faz ouvir no instante em que se está só, e que se sente só
Que não há palavras para alentar um peito angustiado
Que nunca deixa de doer
E o tempo, esse amigo-vilão incompreendido, é compreensível que se faça presente
E que pese, que a dor aumente
Ou que o amor aumente
De quem a gente escolhe sentir saudade?
E suspirar e pensar e planejar e amar e apoiar e odiar
De chorar, escrever, admirar, pensar
De perder o sono, a razão, a vontade
De quem a gente escolhe sentir saudade.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O melhor pra quem

É melhor deixar na estante aquele objeto que te lembra alguém que já existiu? Ou retirar aquele símbolo e permanecer o espaço empoeirado ao redor, que remete ao vazio deixado por quem foi embora?

Deixar a foto torcendo para que bons momentos como aquele eternizado no retrato (e no coração) possam se repetir?

Retirar a foto? Deixar o vazio? Substituir por outra, sempre lembrando o motivo da troca? Rasgar a foto?

Juntar os cacos?

É melhor sofrer junto ou sofrer ainda mais sozinho?

É melhor ter esperança ou ter consciência?

Fingir que está tudo bem ou deixar claro para o mundo que o seu mundo caiu?

Esquecer, lembrar, sorrir ou chorar?

É melhor negar um sentimento ou ignorá-lo?

Se arrepender do que fez ou do que não fez?

É melhor ir atrás ou esperar que venha?

Adiar o gozo da felicidade prometida pelo resto da vida?

Qual é a melhor prioridade: dinheiro, amor, família, felicidade?

Ignorar o próprio sentimento? Fingir que ele nunca existiu? Negar para si um direito quase constitucional? E em prol de que, exatamente?

Que medo temos da felicidade?

Para quem é preciso provar que não há fraqueza no peito onde bate um coração tão sofrido, negligenciado? É preciso mais coragem para dividir o peso do que para carregar a cruz sozinho.

Até quando?

sexta-feira, 9 de março de 2012

Desabafo contra o dia da mulher

Não sou particularmente uma feminista, embora acredite que a mulher merece ser respeitada tanto quanto os homens, os animais, as crianças, os idosos, os portadores de necessidades especiais, os fumantes, etc. Deve ser por isso mesmo que me irrita essa necessidade que a sociedade tem em exaltar os feitos das chamadas "minorias", principalmente quando a "minoria" em questão é a mulher.

Na semana do "dia internacional da mulher", blá, blá, blá, convido você a fazer uma reflexão sobre essa BABAQUICE que é a ode aos "feitos" das mulheres - como se fôssemos criaturas inferiores que precisassem de constantes incentivos para conseguir alguma coisa na vida.

A começar pela ladainha Dilma-primeira-mulher-presidente-da-República. Algum de vocês que votou nela de fato chegou a pensar "nossa, que coisa linda de Deus, se ela ganhar teremos uma mulher presidente da República"? É claro que não. Eu, que votei na Marina Silva, também não pensei se estava votando em mulher ou homem: apenas simpatizei com as ideias - note que não há GÊNERO envolvido nisso. No segundo turno, a propaganda da Dilma enfatizava a soma de votos recebidos por Marina e pela futura presidente que, segundo os marqueteiros de Dilma, mostrava a vontade do povo em ter uma mandatária do sexo feminino.

Aí reclamam que não há mulheres na política, que estamos sub-representadas, etc. Mas quando uma mulher ingressa na política, dois destinos estão escritos para ela: ou vai ser estigmatizada como a mulher-que-prioriza-a-carreira-em-detrimento-da-família-mas-que-absurdo ou ela é - pasmem - a deputada MUSA. É sempre assim: quando uma nova bancada se elege, todos os veículos de comunicação fazem entrevistas com a deputada/senadora/prefeita/vereadora MUSA para saber como, entre tantas atribuições da política, ela consegue manter o visual impecável, o cabelo lindo e sedoso e o peso nunca maior do que 55kg.

É preciso entender que as mulheres não são minoria, que somos tão ou mais capazes de fazer tudo o que qualquer um faz e que, principalmente, não precisamos de uma sociedade hipócrita que bate palmas para tudo o que conseguimos.

Se as mulheres hoje conseguem trabalhar e cuidar de casa, isso é um feito maravilhoso, MAS NÃO PRECISA SER EXALTADO TODO SANTO DIA. Seria muito melhor se eu tivesse emprego, mas não tivesse família? Ou é melhor ter família e ser desempregada? Ou não ter nenhum dos dois, que tal? Eu não ia me cansar nunca!

A mulher não é frágil, não é sensível. À mulher é permitido demonstrar seus sentimentos e desejos, coisa que é proibida aos homens. Desde cedo, são ensinados de que "brincar de casinha é coisa de menina", que "menino não chora". Como esperar então que o homem cuide de casa e trabalhe, como faz a mulher?

A essência do ser humano - homem ou mulher - é ser sensível, é querer carinho e ser cuidado, é querer ser amado. Isso não é competência única e exclusiva da mulher.

Não queremos ganhar menos que os homens - como não queremos ganhar menos que outras mulheres que desempenham o mesmo trabalho. Não queremos ser olhadas com pena e misericórdia. Não queremos ser taxadas de piranhas porque gostamos de sexo nem de barraqueira porque não levamos desaforo pra casa.

Queremos é que essa merda toda de "dia internacional da mulher" sirva menos para entregar flores ou nos isentar de pagamento de estacionamento em shopping - se eu fosse homem, ficaria muito puto com essa segregação. Se é pra ser lembrada, que seja todo dia, por nossos familiares, amigos, namorados, companheiros. Me dê um presente, ou um abraço, ou um beijo, faça algo legal por mim porque eu mereço, não porque sou mulher.

Queremos ser tratadas com respeito e igualdade, sem que essa data reflita uma época em que não éramos gente (e ainda há países em que não somos). Porque a segregação homem-mulher é quase tão imbecil quanto o preconceito contra os negros.

A verdade é que o dia internacional da mulher é uma maneira de a sociedade sexista tentar se eximir de toda a culpa por séculos de tratamento desigual e do preconceito que ainda existe hoje contra o ser humano do sexo feminino. Como se eu fosse melhor do que os outros porque sou mulher.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Até para protestar é preciso ter cérebro

Ah, como é linda a democracia. Só que não.

Pode me chamar de reacionária, mas faça-o somente após ler os meus motivos para odiar manifestações populares.

Em geral, protestos são reuniões de pessoas com uma opinião em comum que clamam por alguma coisa, qualquer coisa. Juros menores, mais escolas, mais polícia, queda no preço do Big Mac.

No entanto, o que eu vejo há algum tempo é uma reunião esporádica de gente imbecil, que não sabe dos seus direitos, muito menos dos seus deveres, que faltou às aulas de História, Geografia, Bom Senso, etc.

Quer um exemplo? Um cara me reúne 513 pedras no gramado em frente ao Congresso Nacional para protestar contra o crack, cada pedra representando um deputado.

Avisaram pra ele que temos, ainda, 81 senadores? Que os deputados não decidem nada sozinhos? Que a decisão de destinar ou não verbas para o combate ao crack é também dos senadores (já que a comissão que define os critérios de divisão das receitas da União é MISTA)? E que a palavra final sobre o uso dos recursos é do poder Executivo? Então, meu amigo, você podia ter usado as mesmas pedras para escrever "NÃO AO CRACK" em frente ao Ministério da Saúde. Menos gente ia ficar puta por tropeçar nelas.

Ou como quando um grupo de arruaceiros foi protestar por justiça em frente ao Ministério da... Justiça (super à toa aquele prédio grande, chamado Supremo Tribunal Federal, onde as coisas são julgadas).

Ou quando os "estudantes da UnB" invadiram a Câmara Legislativa do DF em protesto contra a corrupção comandada pelo governador Arruda. Quer dizer, os caras nem deixaram os parlamentares trabalharem (não que eles trabalhem loucamente, mas muito ajuda quem não atrapalha), nem conseguiram passar uma mensagem. Para mim, ficaram mesmo como arruaceiros.

Mais recentemente, temos um grupo de """hackers""" protestando contra a desigualdade social derrubando páginas de bancos. Me explica, eu sou muito burra: onde é que entra o fator "bancos" no problema da distribuição de renda brasileira? Eles tinham que sair por aí dando uma de Robin Hood, sacando grana das contas dos ricos para jogar de helicóptero aos pobres?

Gente que passou em concurso de caráter temporário - ATENÇÃO: TEMPORÁRIO - e, quando a vigência do contrato prevista em edital acaba, protesta em frente ao Palácio do Planalto para ser readmitido. À parte o absurdo que é a situação em si, COMÉ QUE A DILMA VAI INTERFERIR NA SUA CAUSA, MEU CHAPA?

Eu não sou contra manifestações, sou contra manifestantes imbecis.

Aí vem o outro dizer que "pelo menos tem alguém fazendo alguma coisa". Amigo, está fazendo errado.

Para protestar contra o sistema, você tem que entender o funcionamento do sistema. Em vez de protestar, por que você não junta uma cambada no seu Facebook e sugere um projeto de lei de iniciativa popular? Por que você não participa das audiências públicas que vários órgãos promovem para colher ideias para projetos de interesse da população? Por que você simplesmente não aprende a votar? Ou, pelo menos, por que você não se lembra em quem votou nas últimas eleições para poder cobrar do seu candidato?

Você, incauto manifestante imbecil, sabia que existem três poderes, e que há, pelo menos em tese, um equilíbrio entre eles? Que o Congresso não é culpado de tudo - e, se é, a culpa é sua, que votou no cara. É você que vota no Maluf e no Collor (para nomear apenas dois) para eles voltarem. Que a Dilma tem problemas mais importantes para resolver do que interceder por você no seu concurso. Que justiça mesmo se faz é na urna. E que se o Brasil está uma bosta, a culpa é toda sua.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ela amou um idiota

Ela amou um idiota. Não deu pra reconhecer logo de cara que ele era um idiota. Talvez os sinais tenham ficado claros depois de um tempo, mas já era tarde demais para ela reconhecer. Ela já estava cega de amor por um idiota.
Tudo começou sem compromisso - como quase todo relacionamento saudável. Gostavam das mesmas coisas, conversavam as mesmas ideias, ouviam as mesmas músicas, odiavam as mesmas pessoas pelos mesmos motivos, tinham os mesmos planos de vida, até a mesma profissão. Mas ele era um idiota.
Ela era uma criança no quesito relacionamentos. Ele era uma criança, mentalmente falando. Isso é mais que ser idiota. Além disso, é claro, ele era um idiota.
Ela era uma linda, com a vida pela frente. Quase dez anos mais nova, cheia de amigos, ignorante perante os desafios da vida - e, quer saber? Não importava. Ela passava por todos, ao largo, tirando onda e balançando o cabelo. Rindo, cantando alto e dirigindo rápido. Atraindo olhares. Mas ele? Ah, ele era um idiota.
Além de idiota, ele era inseguro. Como todo idiota, precisava espelhar sua insegurança em alguém. Ela era a vítima. Em pouco tempo, sua alegria de viver foi substituída por toda a insegurança dele. Os medos que ele tinha da vida, de fracassar, de não arriscar, de não dar certo. Os constantes "e se", a responsabilidade excessiva, o ter de dar certo a qualquer custo. O peso que ele colocava na vida era tão grande para ele que passou pra ela. Ele, o idiota, contaminou-a com toda sua amargura de viver. Era mesmo um idiota.
Sim, ele era um idiota. Ela não via, não sabia. Sua cabeça desconfiava, mas seu coração estava encantado - com o que, ainda não se sabe. É um mistério que, creio, jamais saberemos. Seus amigos tentaram alertá-la, sua família acendeu a luz vermelha e, pela primeira vez, colocou na maçaneta da porta o aviso: "Não seja burra, ele não te merece". Ele era assunto evitado entre os mais próximos. Sabe quando a vontade é dar uma sacudida na pessoa e dizer: "ACORDA, MINHA FILHA"? Pois é.
Passaram a brigar. A natureza amarga e sombria dele contrastava com a personalidade expansiva e alegre dela. Ele não gostava da forma menos responsável e mais leve como ela levava a vida. Ela mesma brigava com isso dentro de si: "será que sou irresponsável?". Chorava e se cobrava. Ele, o idiota, cobrava dela. Quando ela estava em dúvida, ele dizia: "você não pode mais errar. Não pode mais voltar atrás. Está muito velha para começar de novo, não acha?". Ela tinha 23 anos. Ele era um idiota.
Em toda briga, ele ameaçava terminar tudo. Ela chorava e implorava para que não fizesse isso, ela poderia mudar, eles poderiam mudar e ter o futuro que planejavam. Ela era diferente (era demais pra ele) de todas que ele já havia conhecido. Ela desejava que isso acontecesse. Mas a mudança, se acontecesse, não seria dela. Deveria ser dele. Ele tinha que deixar de ser um idiota. Ela devia mudar de namorado. Mas ela o amava (será?).
Ele ameaçava terminar, dizia que não dava mais. Ela implorava, soluçando, por mais uma chance. Ele, como se fosse um favor, um grande sacrifício, aceitava. E ela estava a salvo por mais uma semana - ou até o tempo que fosse até ele arrumar motivo para uma nova briga.
Demorou até que ela percebesse que ele era um idiota e ela, muita areia para o caminhãozinho dele. Demorou demais. Mais lágrimas do que ele merecia foram derramadas. Ela não dormia, não comia. Ela foi ao psiquiatra, por indicação da psicóloga, e começou a tomar remédios contra ansiedade.
Ele foi muito idiota. No fim, ele foi mais que idiota, foi babaca. Quando o respeito acaba e a insegurança sobra; quando tudo o que ele via era um trapo de gente e ela achava que ele era a tábua de salvação dela; quando ele a ignorava e estava em 164ª plano pra ele (logo depois do item "regar o cacto"), enquanto ele era prioridade zero pra ela. Ele cuspia, limpava os pés, escarrava e a tratava como uma placa de Petri com o vírus Ebola. Ele era, mesmo, um idiota.
Ela se recolheu, juntou seus cacos. Chorou, e muito. Achava que não ia sobreviver e que jamais seria feliz novamente. Não parava de pensar no idiota. Mas o tempo - ah, o tempo - veio e, de repente, aquele sentimento já não fazia mais sentido. Ela voltou a se amar. Aprendeu a se respeitar novamente e a se gostar. Já se olhava no espelho, já fazia sentido se arrumar, passar maquiagem. Já havia voltado a gostar da vista do seu quarto. Já se planejava novamente. Estava seguindo em frente.
E seguiu. Mas o idiota deixou marcas. Algumas boas, outras ruins. Uma delas foi o trauma: ele a traumatizou. Mas, ah, isso também há de passar.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pecando pelo excesso

Eu sou uma pessoa muito intensa no que faço. Amo demais, adoro demais, bebo demais, como demais, leio demais, sorvo, converso, falo demais. Prefiro pecar pelo excesso. Compro comida demais no mercado porque prefiro que sobre do que falte no churrasco. Posso congelar e usar o coração, a maminha e a cerveja numa próxima vez.

Isso acontece também nos relacionamentos - amigos, amantes, família. Aprendi desde cedo que é melhor eu me arrepender de algo que fiz do que algo que não fiz. A oportunidade passa e nada é pior do que aquela punheta mental: "e se eu tivesse feito?". Nunca vou saber. Prefiro, portanto, pecar pelo excesso.

A diferença é que não posso congelar e usar o excesso de amor, zelo, atenção e preocupação numa próxima vez. O que acaba acontecendo, fatidicamente, é a retração. Sabe quando você coloca o dedo na tomada quando criança, leva um choque e aprende a nunca mais fazer aquilo de novo? É mais ou menos isso.

Em certas situações já vividas previamente, espera-se que a gente saiba como agir. Se você adora um amigo que sempre inventa desculpas esfarrapadas para não ter te atendido ou ligado de volta, você vai continuar ligando? Se aquela sua amiga vive inventando desculpas para não sair com você, você continuará chamando? Se outros malas como esses aparecerem novamente na sua vida, você vai dar-lhes a mesma chance que deu aos primeiros? Provavelmente não.

Mesmo assim, esse tipo de frustração não vai impedir que você, eu, nós, vivamos a nossa vida na intensidade máxima. Só porque um namoro deu errado, uma amizade não foi pra frente, é que você, eu, nós, vamos deixar de namorar ou de engatar uma amizade com alguém ainda desconhecido. Não é o medo de sofrer que vai impedir esses sentimentos de aflorarem e de serem sentidos. É somente após dar vazão a esses sentimentos que a gente vai saber se o cara é uma furada ou se a amiga é, na verdade, uma mala. Louis Vuitton falsificada, de tão vagabunda.

Já amei muito sem ser correspondida, já amei demais e ele, de menos. Já fiz questão e dei prioridade a pessoas que não me tinham na mesma estima. Sei que já foi o contrário: fui o amor não correspondido, a mala que inventa desculpas esfarrapadas. Sei que faço e sou até hoje. Mesmo hoje amo demasiadamente, corro atrás demasiadamente, choro e sofro humanamente sem achar que aquilo vai ter fim, até que, duas semanas depois, já não sou mais a mesma. Dou prioridade a quem acho que devo e, se no fim das contas eu quebrar a cara, vai sobrar para um próximo churrasco. Eu prefiro pecar pelo excesso.

Pode doer tanto que a dor seja física; posso falar tanto que a voz me falha por dias depois; posso chorar a ponto de o rosto acordar inchado. Não é sempre, é nas situações que importam. Com quem importa. Aí sim: se a sensação for "eu não sou prioridade", o melhor é partir para uma próxima vivência intensa. Tal qual dedo na tomada.

Eu peco pelo excesso, sempre. E você?

Em tempo: como bem definiu um dos meus melhores amigos para a vida e além, Vitor Godoi (escritor do oqueeutoafim.blogspot.com): o problema é que as pessoas não correspondem na maneira como nos doamos. Perfeito, gordo :)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O que os homens realmente fazem na academia

Eu nunca gostei muito de academia. Mentira, nunca gostei nem um pouco de academia. Malhar, levantar peso, suar, isso nunca foi comigo. Mas, conforme a idade foi chegando, comecei a me conscientizar da importância disso pra vida, me matriculei num plano semestral e tento ir com certa regularidade. Mentira, foi porque comecei a engordar.

Justamente por isso nunca entendi o que os homens tanto fazem dentro das academias. Por que gostam tanto de ir. Quando eu vou, nunca fico mais que duas horas - isso quando tomo banho na academia. Pra mim, é cumprir tabela. Vou, faço o que tenho que fazer, e vou embora. Mas ontem à noite, numa das minhas raras aparições no ambiente sarado de uma academia, percebi que os homens só frequentam o espaço por quatro motivos:

1. Conversar com "os bróder" - pode reparar: um homem nunca está sozinho em uma academia. Ao chegar, ele sempre cumprimenta todos os instrutores e, pelo menos, três ou quatro "bróder" que estão ali também. Note que nenhum deles nunca está malhando: eles estão sempre andando para lá e para cá na academia, entre os aparelhos, usando aqueles protetores nas mãos para não formar calos, com cara de "putamerda, peguei peso pra caralho, tô me recuperando", e, disfarçadamente, se olhando no espelho. Isso, claro, quando estão sozinhos. Quando se juntam com os demais "bróder", falam mais que arara baleada. Conversa que gira em torno de assuntos como mulher, carro, tretas da "facul", mulher, balada, "churras do Digão", futebol, mulher. Conversas, claro, sempre em volume muito alto, com risadas mais altas, e palavrões ditos ainda mais alto. Em rodinhas, onde eles nunca ficam parados - andam de um lado para outro. De preferência, ao lado de algum espelho.

2. Zoar "os bróder" - os tópicos das conversas variam, mas este é recorrente: homens querem ser mais fortes que "os bróder". Por isso, ficam desafiando uns aos outros a "zerar" tal aparelho - quando você consegue levantar todo o peso disponível naquele aparelho. Não sei qual é a graça disso. O máximo que acontece é distender um músculo. Se o "bróder" não consegue, ele é chamado de "frango filho da puta" para baixo. E todos os 16 machos ao redor riem. Muito. Quando consegue, o cara sai chorando. Provavelmente porque arrebentou algum músculo.

3. Ver "os bróder" malharem - uma roda de 16 machos se reúne em torno do aparelho vendo um dos "bróder" malhar e fazer aquela cara feia.

4. Peidar Whey Protein - essa desgraça desse Why Protein é a pior coisa já inventada na face da Terra. É tipo um suplemento alimentar que vem em pó e tem cheiro de peido. Daí o povo leva o pó dentro da garrafinha pra academia e, lá, mistura com água e fica tomando esse negócio durante todo o treino. Pra piorar, esse negócio fica maturando, vinagrando, fermentando dentro do caboclo. Invariavelmente, o cara vai peidar. E acredite: vai ser perto de você.